Muitos artefatos utilizados atualmente possuem origens antigas e desconhecidas para muitos de nós, assim como a sua original finalidade e suas peculiaridades, um bom exemplo disso é o Noren. Esta é uma peça comum nas casas de japoneses, estabelecimentos comerciais e principalmente em restaurantes, bares, hotéis tradicionais e casas de banho.

História e seus significados

O Noren pode ser considerado uma meia-cortina instalada em portas, corredores, janelas e entradas de casas e lojas, normalmente colocadas em locais com um grande fluxo de pessoas. Um artigo muito peculiar por apresentar cortes verticais da base até quase o topo e penduradas por um varão. Apesar da simples definição, a mesma herdou antigas atribuições práticas, culturais e religiosas.
Segundo a estudiosa Cristiane A. Sato, a origem do Noren remonta o período Yayoi (300 a. C. a 300 d. C.), onde suas raízes se relacionam as práticas xintoístas arcaicas e xamânicas. O uso da cortina é um costume tão antigo que apesar de muitos contemporâneos japoneses a utilizarem ainda hoje, muitos desconhecem a sua origem e sua história. Mesmo praticando esta tradição e perpetuando estas crenças consagradas por milênios, os motivos que as mantiveram vivas apresentam-se de maneira inexplorada.
Uma das hipóteses levantada pela autora revela uma ligação religiosa da cortina com o Xintoísmo antigo, onde este recebeu a função do shimenawa, uma artigo confeccionado em palha de arroz em forma de corda grossa torcida da esquerda para a direita. Este era utilizado no Xintoísmo como um artefato que indicava a presença de uma divindade e que afastava as impurezas.
Os shimenawas eram inclusive utilizados desde o Japão primitivos, onde eram colocados ao redor das árvores, pedras, templos ou qualquer objeto que os japoneses antigos acreditavam ser sagrados. Assim, o shimenawa também era posicionado ao redor da fogueira, esta última se localizava no centro das casas. Segundo as crenças da época, o fogo era considerado um elemento sagrado, onde o uso do artefato demonstrava respeito a Koojin, o deus do fogo (também conhecido como Honokagutsuchi ou de Hi no Kame). No período Yayoi, o fogo era considerado divino, pois este elemento era um grande provedor de condições de sobrevivência pela sociedade nipônica antiga.

Contudo, conforme os povos primitivos evoluíam para comunidades maiores e mais complexas, cada vez mais voltadas para a atividade agrícola, a arquitetura das casas também sofreram alterações como reflexos das mudanças no estilo de vida, como divisões de cômodos com usos específicos. Assim, onde antes o fogo era o centro da vida doméstica passou a ocupar somente um ambiente, a cozinha, o que tornou o uso de shimenawa, como era feito antigamente algo impraticável. foi substituída pela cortina Noren, tornando praticamente sinônimos. Ambas simbolizam uma conexão entre a humanidade e os espíritos, e por isso, o artefato passou a ser considerado um amuleto.

Segundo O’Donoghue, repórter da Japan Times, relata a presença do Noren também no período Heian (794-1185), onde o seu uso de fato visava a proteção de mercadorias que são expostos fora da loja, assim como, preservar as entradas contra os intempéries. Somente na era Edo (1603-1868), foi implementado o uso de logos, escritas e brasões familiares, fazendo dos Norens, um artifício de divulgação das lojas e estabelecimentos.
Uso atual do Noren
Apesar da mudança no estilo de vida que se refletiu no aspecto arquitetônico de casas e comércios, o Noren ainda possui referências espirituais, pois, popularmente acredita-se que ele evita que os maus espíritos parasitem os clientes e entrem no estabelecimento. Desta forma, a cortina “escovaria” a cabeça das pessoas ao passar por ela. Varrendo dos clientes e pessoas os “maus espíritos” que possam gerar doenças e azar, sendo um dos elementos utilizados no processo de purificação mística muito comum no Japão, o Kekkai, a criação de uma barreira espiritual.
Nas portas de residências, além de limpar as pessoas de quaisquer “maus espíritos” antes de adentrar na casa, é utilizado como um talismã de proteção contra incêndios.
O artefato também recebeu atribuições práticas, quando penduradas na entrada de comércios e restaurantes é um indicativo que a loja está pronta para atender o público. Já em residências, a cortina passou a ser muito utilizada para dividir ambientes, carregando também uma função decorativa aos espaços, em ambientes externos o Noren passou a atuar como forma de bloquear o sol, vento, poeira e também vizinhos abelhudos.


Nota-se que o Noren ao longo do tempo adquiriu uma grande importância não somente prática, mas também simbólica dentro dos ambientes nipônicos, um reflexo disso, foi a edificação de um museu dedicado somente a exposição das cortinas, o Hanayome Noren Museum, localizado na cidade de Nanao, na província de Ishikawa.

O Noren mostra a antiga e profunda relação do Japão com os preceitos religiosos, raízes tão antigas que muitas vezes sua origem torna-se desconhecida para muitos, por meio do recebimento das novas atribuições e funções.
REFERÊNCIAS:
https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Soba_restaurant%27s_noren_by_-cipher-_in_Uguisudani,_Tokyo.jpg
http://www.culturajaponesa.com.br/index.php/diversos/noren-cortina-curta/
https://flic.kr/p/cao4TA
https://flic.kr/p/4Zabsd
https://www.tsunagujapan.com/zh-hant/simple-yet-beautiful-japans-traditional-homes-kominka
<https://flic.kr/p/efNC1V
https://flic.kr/p/xEYvtN
http://hanayomenorenkan.jp/en/
https://www.japantimes.co.jp/life/2017/01/14/style/curtain-call-examining-evolution-japans-humble-noren/#.WnBcEa6nGt8
http://hanayomenorenkan.jp/en/